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Travessia

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Documentário l 5:00 l Direção: Safira Moreira l 2017

Utilizando uma linguagem poética, Travessia parte da busca pela memória fotográfica das famílias negras e assume uma postura crítica e afirmativa diante da quase ausência e da estigmatização da representação do negro.

Roteiro: Safira Moreira

Produção: Safira Moreira

Montagem: Safira Moreira

Direção de Fotografia: Caíque Mello

Som: Safira Moreira

Resenha

Por: Suete Souza da Silva

Travessia é um documentário escrito e dirigido pela artista e cineasta Safira Moreira. Erigido sobre o patrimônio de cada pessoa envolvida na produção, o curta-metragem tem início com recortes de um suporte fotográfico, em preto e branco, acompanhado pela enunciação de Vozes-Mulheres: poesia de Conceição Evaristo que revela a descendência geracional de mulheres pretas em condição diaspórica. 

Na fotografia, conquistada em uma feira de antiguidades na região central do Rio de Janeiro, consta um fragmento do século passado: um bebê branco, nomeado ao verso, é segurado no colo por uma negra retinta, identificada apenas como “sua babá”. Na sequência, registros de famílias negras surgem por múltiplas cores, espaços e movimentos. Pela obstrução ao resgate da memória, no espaço metropolitano, os estigmas históricos e sociais da negritude brasileira são discriminados em cena e reescritos com tecnologias fortalecidas no seio familiar: a poesia desemboca na fala e, da fala, surge o canto originário de Cabo Verde – cada qual preenchendo, com fluidez, as lacunas dos gestos performáticos que famílias negras trazem, silenciosamente, ao espaço diegético. Conflitos são dissolvidos, nas fronteiras entre interesses públicos e privados, a partir do momento em que a escrita pessoal é denunciada como método de manutenção das contradições e das limitações impostas à produção de saber e de memória: no verso da fotografia em preto e branco, encontra-se a negligência, a negação e a omissão.

É na junção contemporânea de diversas linguagens e dispositivos que algo maior é disposto por Safira, em um movimento subversivo de curadoria que só é possível no atravessamento conjunto de condições. Materializando transformações que levaram séculos, mas que perdurarão por muitos outros, a realizadora aponta a emancipação coletiva apensa a uma nova forma de ler e de escrever a realidade: algo tão simples quanto este clássico documento instantâneo de cinco minutos nos mostra.

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