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Ser Feliz No Vão

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Documentário l 12 l Direção: Lucas H. Rossi dos Santos l 2020

Um ensaio preto sobre trens, praias e ocupação de espaço.

Roteiro: Fermino Neto e Antonio Molina

Produção: Fabiane Zanol, Maria Aparecida Rossi e Edna Gramasco

Montagem: Lucas H. Rossi dos Santos

Som: Pedro Santiago

Resenha

Por: Leonam Monteiro

Ser Feliz No Vão é um filme potente e instigante. É necessário permanecer atento ao discurso que nos é proposto, pois é na organicidade dos materiais que a narrativa se ampara e se sustenta de forma magistral. Não deve passar despercebido o início com o icônico poema-manifesto “Gritaram-me negra”, da poeta, coreógrafa e ativista afro-peruana Victoria Santa Cruz. O poema aborda a violência do racismo na experiência do ser negro. 

 

A partir de um caso particular, o filme discute a criminalização de pessoas periféricas,  em sua grande maioria negras, ao utilizarem as praias de Copacabana e Ipanema, na zona sul do Rio de Janeiro –  a parte mais rica e branca da cidade. Esse é o mote para se entender, discutir e, principalmente, pôr em xeque o legado da escravidão no Brasil e do colonialismo em outras partes do mundo. O embranquecimento da nação brasileira, posto em prática com a imigração de europeus após a abolição da escravidão, visava dissipar a imagem do negro, na tentativa de nos tornarmos um país branco. 

 

A luta contra o racismo se estabelece, seja na presença ou nas falas de artistas como Fela Kuti, Nina Simone, Tim Maia e Mano Brown. O rapper consegue traduzir, em um dos muitos registros documentais presentes na narrativa, o seu ponto de vista enquanto um artista que questiona toda a tradição escravocrata herdada no Brasil: "A gente tá no Brasil, desde que o Brasil é Brasil. Só que a gente é estranho pra eles até hoje. Os pretos são estranhos no Brasil.(...) Chegou a época da periferia dominar". E sabemos que essa periferia tem cor e tem classe.

 

A praia, portanto, é um laboratório perfeito para se observar a segregação racial. Primeiro, pela dificuldade imposta geograficamente. Segundo, ao ser analisada a partir das percepções dos jovens brancos e moradores da Zona Sul. Para eles, os negros são um distúrbio dentro do “seu espaço”. Fica evidente a relação entre raça e classe. Como filme propõe, por mais que essa relação não seja destruída por completo, ela é rachada a partir do momento em que esses corpos habitam os espaços e rompem com as barreiras que são impostas. É possível ser feliz no vão (?). 

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