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Saudades de Amélia

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Ficção l 20:00 l Direção: Gaboroto l 2020

Enquanto lida com o aflorar da curiosidade de suas novas vizinhas de condomínio, Amélia (Rafaela Baroni) recebe uma carta inusitada de um país estrangeiro. Um convite para encarar a profusão de peripécias do tempo.

Roteiro: Gaboroto

Produção: Yas Lucchesi

Montagem: Bruna Massa, Gaboroto, Ingá

Elenco: Rafaela Baroni, Cecília Albuquerque, Sophia Tinoco, Marambaia, Renata Egger, Carlos Bruno, Eloá Rodrigues, Eula Rochard, Ilana Simons, Paula de Souza

Direção de Fotografia: De Beija

Direção de Arte: Rebeca Hertzriken

Som: Mari Von Secken

Resenha

Por: Suete Souza da Silva

Saudades de Amélia é uma ficção escrita e dirigida pelo artista e cineasta Gaboroto. Acompanhando um programa televisivo frenético de exercícios para bicicleta ergométrica, num instante inicial, a protagonista Amélia investe no movimento de seu corpo entre agressivos tragos em seu cigarro enrolado manualmente. As disparidades referenciais em energia, em idade e nos aspectos estéticos das jovens figuras midiáticas não duram muito, pois logo Amélia retorna ao despendimento ocioso de sua rotina entre momentos de relaxamento e produção artística numa casa deslumbrante – ponto de encontro não apenas para outros tempos, mas também múltiplas realidades.

É atravessando performances solitárias, monólogos cômicos sobre a realidade brasileira contemporânea e retornando a discursos sobre cannabis que Amélia, interpretada pela formidável Rafaela Baroni, passa a ter a paz do seu espaço perturbada pela intromissão de vizinhos e viajantes. Essa construção sintética de conflitos sobre um protagonismo dissidente na Lagoa, bairro fluminense associado às elites, exercita noção de si enquanto processo construtivo para subversão de imaginários e evasão dos estigmas de perfeição e marginalização - é percebendo as mazelas no discurso e na representação que Saudades de Amélia constrói, na diegese, múltiplas possibilidades.

A utilização de uma simples linguagem novelesca, apesar das pontuais subversões contemporâneas de formato, denuncia o posicionamento dessa excêntrica protagonista em um lugar que instiga não apenas a presença de cada agente que ali se insere, mas também dos próprios espectadores. Fazendo valer o artifício das narrativas clássicas e das mídias acessíveis para que cada momento cômico desemboque em uma saturação do texto e do próprio olhar, é na escrita e no trabalho colaborativo que Saudades de Amélia atinge seu fim: revelando a necessidade de que muitas outras personagens sejam contempladas em condições de protagonismo. Tarefa essencial para o desempenho de uma prática artística consciente mas, mais que isso, para um cinema sem mandos e desmandos privados.

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