Resenha

Por: Felipe Novoa

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Há algo essencial na natureza da dor que torna o ser humano incapaz de genuinamente dividir essa experiência com o próximo, assim como torna aqueles à volta do humano sofredor incapazes de entender a sua dor. Essa emoção é impossível de ser descrita e tão complexa que faltam adjetivos e sinônimos nos nossos dicionários para a explicar. Feliz e infelizmente, temos as analogias, que na sua riqueza de imprecisões nos ajudam a simular o que sentimos, por mais que dizer que “dói como um tiro” ou “dói como se eu não pudesse fazer nada e eles continuam a sofrer” seja apenas o que são, analogias. 

Queda D’água é uma analogia. Por mais claro que demonstre à audiência uma mescla profunda de sentimentos, esses sentimentos continuam relativamente distantes àqueles que não passaram pela mesma situação, da mesma forma que as duas personagens no curta não conseguem dividir suas dores e se unirem.

O tempo fechado na serra fluminense é fundamental para manter o ar taciturno e lúgubre que permeia todo o curta. Talvez seja possível considerar a névoa, o frio, o cinza, certamente de forma poética, a terceira protagonista do curta. Além de ser uma personagem em Queda D’Água, o clima é obviamente o local onde toda a trama se desenvolve. O ambiente único de um inverno montanhoso traz em si só uma melancolia única. Mesmo que os dois protagonistas estejam sempre protegidos fisicamente (agasalhados, encasacados, em frente a uma lareira crepitante), a sua falta de proteção emocional é explícita. A culpa que sentem e o pesar atrelado a isso está mais do que estampado nos seus rostos e modos, ela os cobre assim como as brumas fazem sobre a serra ao seu redor.

Queda D’Água é uma imersão na mente daqueles em profunda melancolia, dominados por demônios além do seu controle e presos num caminho sem volta.