Quando as pedras dilatam
Ficção l 21 l Direção: Diego Amorim l 2019
Rita canta uma cidade de diferentes fachadas e esquinas. Diante da quantidade enorme de assassinatos no Rio de Janeiro, certos lugares revelam que o passado é um presente e os espaços emanam nossa história.
Roteiro: Diego Amorim
Produção: Anele Rodrigues
Montagem: Diego Amorim e Vicente Oliveira
Elenco: Dani Câmara, Isabel Abrantes e Henrique Patuá
Direção de Fotografia: Guilherme Tostes
Direção de Arte: Marcos Reis
Som: Anne Santos , Eduardo Falcão, Marcelo Palmeiras e Thiago Dideus
Resenha
Por: Geovana Diniz
“[...] Não estamos (no período de escravidão), nós estamos no processo democrático, vai ter que aturar mulher negra, trans, lésbica, ocupando a diversidade dos espaços[...]”. Essa foi uma das falas da vereadora eleita do Rio de Janeiro, Marielle Franco, no seu último pronunciamento na Câmara Municipal do Rio de Janeiro antes de ser assassinada, quando ia para a sua residência no bairro da Tijuca, zona norte do Rio.
Violência e desigualdade possuem um alvo no Rio de Janeiro, enraizado na história e nos espaços de poder da cidade. Quando as pedras dilatam é um olhar delicado sobre a relação de uma mulher negra com essa cidade, mostrando como cada canto pode ser um encontro com um passado de repressão que insiste em se manter presente, como se estivéssemos presos a um ciclo de brutalidade. Apesar de tudo, é através da sua voz e da sua arte que essa mulher encontra resistência: o cantar é o seu grito de liberdade e uma forma de lutar para ocupar espaços que por muito tempo foram símbolo de dor e sofrimento.
Pelo trânsito do Rio, o diretor Diego Amorim nos faz questionar o nosso lugar nessa cidade construída para poucos, com suas políticas de abate comandadas do luxo da zona sul e direcionadas à população mais pobre e marginalizada. Existirá um antídoto para a uma realidade tão dura? Diego nos mostra que, assim como em cada esquina podemos ter um déjà vu da barbárie, também podemos encontrar pequenos goles de resistência, seja no trem cedo de manhã ou num bar no fim da rua tarde da noite.