Nada Além da Noite
Ficção l 21:00 l Direção: Rodrigo de Janeiro l 2019
Cai a Noite na Pavuna: Enquanto Bob revisita seu passado com um amigo de infância, o pequeno Augusto e sua avó acompanham na TV uma votação que vai mudar os rumos do Brasil.
Roteiro: Rodrigo de Janeiro e Leonardo Maciel
Produção: Igor Leite
Montagem: Igor Leite
Elenco: Lea Garcia, Rafael Ricardo, Rodrigo de Janeiro, Sil Bahia, Augusto Maciel
Direção de Fotografia: Alexandre Kubrusly e Mariana Moraes
Direção de Arte: Luana Koslowski
Som: Artur Seidel
Resenha
Por: Felipe Novoa
Em Brasília, o maior e mais horrendo espetáculo político já visto neste século se armava e derramava perante os olhos de todos numa noite de 2016. A cena estava preparada para uma execução, a democracia era esquartejada a cada “voto sim” dito no plenário. No subúrbio do Rio de Janeiro as pessoas vivem normalmente, seguindo com as suas vidas, voltando do trabalho, indo à igreja, cuidando do sobrinho, apáticas ao que passa nas suas televisões por mais revoltante que isso tenha sido.
Nada Além da Noite é uma visão do impacto imediato do processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff na vida do carioca médio. Ao mostrar cenas normais do cotidiano, inabaladas pelo que acontecia ao redor, temos noção de como estamos separados dos processos políticos que regem nossas vidas. Essa apatia geral acabou nos custando não apenas uma presidente eleita democraticamente, mas também toda a confiança e respeito pelas nossas eleições e pela própria democracia. Se uma Presidente, a líder política máxima em nosso país, pode ser derrubada com acusações nebulosas e votações extremamente violentas, o que dirá de nós? Onde ficam as nossas proteções quando a instituição que devia manter a segurança ruiu?
Essas questões têm martelado o consciente brasileiro diariamente, mas existem outras questões ainda maiores que Nada Além da Noite levanta: O que ocorre quando estamos divididos por nossas crenças? A perda maciça de fé numa instituição sólida significa que a forma como a conhecemos deve mudar? O que significa o levante conservador à volta de todos (e mais recentemente na cadeira presidencial)? Até onde a polarização pode ir? A que ponto a intolerância pode destruir relacionamentos? O que estamos criando para as próximas gerações?
Afinal, nossas vidas são normais? O que significa levarmos as nossas vidas como se tudo que importasse fosse apenas o que está à nossa frente? O curta de Rodrigo de Janeiro levanta dezenas de questões e deixa em aberto o futuro que vivemos diariamente após nossa crise constitucional, mas de forma alguma decepciona em sua realidade crua e meditativa.